quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fichamento: PEREIRA, Maria H. da Rocha. Estudos de História da Cultura Clássica – Cultura Grega. 7ªed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. (p. 49-67).

1. A Questão Homérica

Quem fala dos Poemas Homéricos não pode deixar de fazer uma alusão, por breve que seja, à Questão Homérica, ou seja, ao problema da sua autoria e data de composição. Na verdade, diversas incongruências e repetições levaram a supor que deviam ter sofrido interpolações ou acrescentos. (Analíticos x Unitários).

As dificuldades são, efectivamente, muitas. Uma está na linguagem, onde há formas de diversas épocas e elementos de nada menos de quatro dialectos diferentes, quer dizer, uma língua artificial, que não deve nunca ter sido falada. Para complicar a questão, passa-se outro tanto no domínio da arqueologia, sem que haja concordância entre estratos lingüísticos e estratos arqueológicos.

Milman Parry: Chegou à conclusão de que os Poemas Homéricos assentavam numa técnica de improvisação oral, que explicaria as repetições e pequenas incongruências da narrativa. Esses poemas repetem freqüentemente epítetos e até versos inteiros, porque eram obra de improvisação oral, que necessariamente tem de ter pontos de apoio, frases armazenadas, que dêem tempo de pensar no verso seguinte, enquanto se vai cantando o anterior. Os nomes dos heróis como os seus atributos ocupam meio verso ou mesmo um inteiro.

Esses epítetos não são, porém, empregados ao acaso. Embora condicionados pela métrica, a sua presença ajuda a caracterizar o herói e a insistir sobre qualquer qualidade sua, que naquele momento tem relevância especial. É freqüente que cada herói ou povo tenha os seus epítetos distintivos, os quais, conforme a descoberta do Prof. Page, ascendem, em grande parte à época micênica. Estas observações conduzem-nos de novo a outro aspecto da questão, aquele que se relaciona com a historicidade da Ilíada.

Heinrich Schliemann: Principiou, em 1871, a efectuar escavações na colina de Hisarlik (na atual Turquia, a Nordeste da Ásia Menor) e encontrou aí, não uma cidade só, mas sete cidades sobrepostas, das quais uma especialmente opulenta, a que ele chamou de Tróia II e supôs ser a homérica.

W. Dörpfeld: Identificação da cidade de Príamo com a Tróia IV, em 1894, que tinha restos de cerâmica idênticos aos que haviam encontrado em Micenas e Tirinto.

C. Blegen: Os resultados apontavam para a hipótese de se ter fundido na memória dos homens a riqueza da Tróia VI. Os trabalhos de Blegen mostravam ainda que a civilização da Tróia VI trouxera consigo a domesticação do cavalo e parecia ter agüentado um longo cerco, a avaliar pelas precauções tomadas para preservar alimentos. Com todos estes factos se levantara a Questão de Tróia.

Manfred Korfmann: Em 1981, tinha recomeçado as escavações na zona da Tróade. Os dados consistiam no seguinte: Mostraram que era nesse lugar que os navios tinha de esperar que amainassem os fortes ventos do Noroeste. Logo, quando Homero dá a Tróia o epíteto de ventosa, estava aí uma prova, entre várias outras. Nessa área apareceu grande quantidade de cerâmica micênica, o que prova pelo menos a existência de comércio entre os dois povos. Outros resultados das escavações são a descoberta de um cemitério onde se encontravam exemplos de duas práticas funerárias que geralmente se opõem: a cremação e a inumação. Não há, portanto, motivos para duvidar de que a Tróia VI era a Tróia homérica, e de que o autor da Ilíada conhecia bem os lugares que descreve.

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